quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Santo Agostinho: “compreender para crer, crer para compreender” G9


A filosofia patrística teve em Santo Agostinho o seu maior expoente. Nascido no ano de 354 em Tagaste, região do norte da África, Aurélio Agostinho formou-se em Cartago para professor de retórica. Lecionou em Roma e Milão. Foi leitor de Cícero. Comungou o maniqueísmo (doutrina que afirmava ser o mundo dirigido por dois princípios absolutos: o bem e o mal). Superou sua desilusão com o maniqueísmo pelo contato com o neoplatonismo (interpretação espiritualista e mística do pensamento de Platão), sobretudo de Plotino. Contudo, foi a fé cristã o caminho tomado por Agostinho como verdadeiro, e o responsável por este acontecimento foi Santo Ambrósio (340-397), bispo de Milão. Influenciado por Ambrósio, Agostinho converteu-se ao cristianismo, em 386. Foi bispo de Hipona (também no norte da África) de 395 até 430, ano de sua morte. Por isso, também é conhecido como Agostinho de Hipona. Entre suas obras mais importantes estão A Cidade de Deus, Confissões e Da Trindade.
E mais ainda: as trevas seriam a ausência de luz. A luz é a fé em Deus que se manifesta em toda natureza, até mesmo na razão. E como a razão é fruto da luz, deduz-se que a razão é limitada diante da fé. Pois, como afirma Agostinho, tendo como fundamento a teoria dos dois mundos de Platão, se Deus criou o mundo do nada, antes de Ele ter criado o mundo, as ideias já existiam dentro de Sua cabeça. Assim, no lugar do mundo das ideias, a teoria da iluminação de Santo Agostinho coloca o mundo das ideias divinas. O homem recebe de Deus o conhecimento das verdades eternas.
O modo como o pensador abordou a relação “razão versus fé” acabou por transformar a razão em uma forma de demonstração da necessidade da fé para o homem. Daí a necessidade de “compreender para crer, crer para compreender”, segundo afirma o próprio Agostinho. Não se trata de diminuir a importância da razão, mas sim de afirmá-la enquanto meio para se chegar à fé. Se o “conhecimento da verdade” é fato (por exemplo, a matemática), resta saber o que torna possível tal conhecimento. Ele não pode ter origem no próprio homem, isto é, não pode ter origem apenas na capacidade humana de raciocinar, pois este tipo de conhecimento é perecível e mutável, enquanto a verdade é eterna. Agostinho vê aí uma incompatibilidade. Logo, o conhecimento da verdade só pode estar acima do homem e de todas as coisas; em outras palavras, o conhecimento só pode vir de Deus.
Para Agostinho, o conhecimento humano nos é dado pela presença de Cristo (“Verbo feito carne”; “Verdade interior”) em cada um dos homens, possibilitando-nos conhecer a verdade e a certeza, e podendo expressá-las por meio das palavras. Trata-se de uma “verdade revelada”.
O pensamento de Santo Agostinho predominou na Igreja Católica durante toda a Alta Idade Média.

O cristianismo e a Igreja Católica G9

Após a crucificação de Jesus Cristo, o cristianismo ganhou cada vez maiores dimensões, tornando-se uma religião muito forte dentro dos domínios romanos, mesmo com o combate que lhe foi imposto por vários imperadores romanos.
No seu início, o cristianismo tinha como base de análise somente a fé, ou seja, apenas a crença bastava para explicar quaisquer questões. A oposição entre “fé” e “razão” tornou-se evidente já com os primeiros pregadores que procuraram divulgar as palavras de Cristo. Como exemplo, podemos citar o apóstolo Paulo. Entretanto, em fins do século II surgiram os padres apologistas, assim chamados justamente por enviarem vários defensores do cristianismo aos imperadores romanos, com a intenção de convencê-los da legitimidade dessa religião. Para isso, os padres apologistas procuravam fazer “aproximações” entre o cristianismo e a filosofia.
À medida que o cristianismo crescia, os cristãos conseguiram organizar uma instituição chamada por eles de Igreja (do grego ekklesía, ou seja, “assembleia”), dirigida por padres e bispos. A perseguição romana só acabou no ano 313, quando o então imperador romano Constantino, através do Edito de Milão, concedeu liberdade de culto aos cristãos do Império Romano”. Contudo, a “opinião correta” não podia se impor apenas pelo uso da força, ou tão somente pela revelação (crença, fé). Era preciso que a ortodoxia também fosse resultado do uso da razão. Foi neste contexto que surgiu a filosofia patrística (“filosofia dos santos padres”), que tinha como uma de suas principais missões a conciliação da fé com a razão.

A questão do conhecimento na Idade Média G9

A cultura medieval foi marcada pela predominância da Igreja Católica, que sobreviveu às invasões bárbaras na área do Império Romano do Ocidente. Sendo assim, a filosofia na Idade Média ocidental foi orientada na direção de conciliar a razão com a fé, como veremos nas páginas a seguir.

Antes de falarmos sobre a filosofia na Idade Média, vamos ver o que aconteceu com o pensamento filosófico no período pós-Aristóteles, até chegar na filosofia cristã propriamente dita.
Com o domínio de Alexandre Magno sobre as cidades-
-Estado gregas, que incluía uma vastidão de territórios do Egito até a Índia, floresceu a cultura helenística, síntese da cultura helênica (grega) com a cultura oriental. Quanto ao aspecto filosófico da cultura helenística, destacamos as seguintes escolas de pensamento:
Cinismo• (pensamento individualista de inspiração socrática que desprezava todas as convenções) de Diógenes (413-323 a.C.);
Ceticismo• (doutrina que se fundamentava no reconhecimento da impossibilidade de se obter o conhecimento real das coisas) de Pirro de Élida (360-275 a.C.);
Epicurismo• (pensamento moral que acreditava no prazer como a chave para a felicidade) de Epicuro (341-270 a.C.);
Estoicismo• (ideal de busca de total harmonia com a natureza, dominando as paixões e sofrimentos do cotidiano) de Zenão de Cício (336-264 a.C.).
Fundamentalmente, essas correntes filosóficas têm em comum duas características: serem seguidoras dos ensinamentos de Sócrates, Platão e Aristóteles e terem claro que a felicidade plena do homem não é mais possível, dentro do ideal de participação nas decisões da pólis, devido à paralisia que se abateu sobre a política.
Com o fim da pólis grega, não era mais possível aos homens serem capazes de decidir o destino de suas comunidades. No lugar da democracia ateniense, suplantava-se o Império Macedônio, que, como todo regime político autoritário, não permitia a participação política de seus súditos. Daí a filosofia helenística, de uma forma geral, voltar-se para o individualismo como perspectiva de conquista da felicidade.
Durante o domínio romano na bacia do Mar Mediterrâneo, o pensamento filosófico permaneceu importante e atuante devido a filósofos latinos como Cícero (106-43 a.C.), Sêneca (4 a.C.-65 d.C.) e o imperador romano Marco Aurélio (121-180) – estes dois adeptos do estoicismo –, além de Plotino (205-270), iniciador do neoplatonismo. Sem trazer originalidade no que diz a respeito aos temas típicos da filosofia, os latinos contribuíram para a formação da cultura ocidental com a conceitualização e sistematização do Direito.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O conhecimento pela arte:

• toda obra de arte expressa uma visão de mundo, pois representa a maneira pela qual seu autor percebe a realidade que o cerca, entre outras coisas. Portanto, quando nos deparamos com uma obra de arte e buscamos interpretá-la, estamos adquirindo um tipo de conhecimento que tem relação com nosso interior, ou seja, com nossa subjetividade. Contudo, esse tipo de conhecimento é tão complexo quanto o filosófico e o científico, pois requer sensibilidade e proximidade com a história da arte.

O conhecimento científico:

• desenvolvido a partir do conhecimento filosófico, é uma forma de conhecimento elaborada através de métodos rigorosos de investigação, entre eles a utilização da experiência, que busca obter leis de explicação racional e de validade universal para os fenômenos analisados.

O conhecimento pelo senso comum:

• trata-se de um conhecimento espontâneo resultante das experiências vivenciadas pelos seres humanos no cotidiano da sua existência, isto é, no seu dia a dia. Por não ser um conhecimento adquirido de maneira mais sistematizada, um dos grandes problemas que podem ser gerados pelo senso comum é o preconceito em geral. Não respeitar as minorias e desprezar uma pessoa pela cor da sua pele, por exemplo, são resultados do desconhecimento e da falta de informação mais elaborada. Já o chamado bom senso, que é mais estruturado e crítico, pode ser considerado uma primeira superação do senso comum.

Algumas das áreas de atuação da filosofia são a epistemologia (que trata sobre o "conhecimento"), a ética (que trata da origem e da natureza dos "valores da vida e da felicidade"), a estética (responsável pelo conceito de "beleza" e da natureza e pela função da "arte"), a política (que reflete sobre o "poder" e o "Estado") e a lógica (que estuda como obter a exatidão do "raciocínio").

O conhecimento filosófico:

• trata-se de um tipo de conhecimento essencialmente teórico adquirido por quem o pratica por meio de uma exaustiva reflexão crítica acerca da realidade, da ação humana e dos seus valores. O filósofo não se contenta em “contar uma história” sobre as origens do mundo e do ser humano; ao contrário, busca entender e explicar racionalmente essas origens, através da sistematização do pensamento. Este raciocínio está ligado a um encadeamento lógico que visa a não cair em contradições. É a razão tentando buscar a realidade e a verdade das coisas.
As formas de conhecimento

Mas será que o conhecimento obtido pela prática filosófica é a única forma de se conhecer as coisas? A resposta é não. Existem outras maneiras de se conhecer o mundo que nos cerca. Vejamos algumas delas, além da filosófica.

O conhecimento mitológico:

• foi a primeira tentativa de explicação do mundo feita pelo homem, ainda que de uma maneira fantasiosa. Os mitos são carregados de imaginação e crença, o que nos leva a concluir que não passam por uma sistematização do conhecimento. A questão da crença, inclusive, aproxima o mito da religião. O mito é uma representação coletiva, transmitida através de várias gerações e que relata uma explicação do mundo. Trata-se de uma maneira de a sociedade explicar os fenômenos que a cercam, assim como uma tentativa de explicar a si próprio. A filosofia surgiu na Grécia como um esforço de superar o conhecimento mítico.



Pensar e conhcer

1. Pensar e conhecer

A capacidade de pensar

O ser humano é o único animal do planeta capaz de pensar sobre o mundo que o cerca. E é claro que isso não é pouco! Você já pensou na importância de poder pensar? Foi a capacidade de pensar, interligada a outros atributos específicos da nossa espécie, que nos possibilitou sermos o que hoje somos! Em outras palavras: a evolução da espécie humana está totalmente ligada à sua capacidade de pensar, pois foi assim que o homem criou mecanismos de sobrevivência e adaptação ao meio no qual ele vivia, conseguindo fazer uma coisa que nenhum outro animal foi capaz de fazer: interferir sobre a natureza e adequá-la às suas necessidades. Perceba a importância do pensamento!
A atividade de pensar, ou seja, a capacidade de refletir sobre as coisas que nos cercam, é aquilo que chamamos de razão. Quem nunca ouviu a expressão: “o homem é um animal racional”? E é aqui que entra a filosofia. Refletir sobre o sentido da vida, os seus valores e como viver de forma feliz e correta, entre outras coisas, é o ofício da filosofia. Veja que “filosofar” e “pensar” são duas atividades inseparáveis. Entretanto, a prática filosófica busca conhecer e compreender o mundo que nos cerca; isso implica um pensamento organizado e voltado para o conhecimento. Portanto, nem sempre quando pensamos sobre alguma coisa estamos necessariamente filosofando. Não é tão simples assim. Para filosofar, é preciso ter interesse em conhecer.

A filosofia e as suas origens no ocidente - G8

Ter o prazer em conhecer: essa é uma atitude filosófica! A filosofia é de fundamental importância na formação do ser humano crítico e responsável que, acima de tudo, tem o interesse em conhecer o mundo que o cerca. Mas o que é o conhecimento? Quais são as maneiras pelas quais podemos obtê-lo, além da filosofia? E, afinal de contas, quando, onde e como surgiu o conhecimento filosófico? A seguir, tentaremos encontrar respostas a essas indagações. Bons estudos!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O significado da Política G7

Geralmente, a palavra “política” é empregada fora do seu significado maior. É comum ouvirmos expressões do tipo “a política da empresa é ...”, ou “a política do hospital é ...”, ou, ainda, “a política do sindicato é...”. Nesses exemplos, a atividade política aparece desvinculada da idéia de governo, pelo menos daquele tipo de governo que deve ser voltado para o público, e não para o privado. Contudo, há uma outra concepção de política bastante difundida entre as pessoas no cotidiano: aquela que afirma ser a política uma atividade para os profissionais dessa área, ou seja, os políticos. Junto dessa concepção está a idéia equivocada de que não temos nada a ver com a política, pois ela é “coisa de político”. Nesse caso, o princípio de governo aparece como uma coisa distante das pessoas comuns. Mas, afinal, o que é a política?

Para entendermos melhor a política, é aconselhável verificar o significado etimológico dessa palavra. Política é uma palavra grega que significa “a arte de viver na polis”. Assim, política pode ser interpretada como uma atuação dos seres humanos no sentido de dirigir ou governar a sua cidade, isto é, o bem público. Mas governar a cidade não significa atribuir esse compromisso a alguns poucos, e sim à participação de todos nesse processo. Isso está relacionado com o princípio de cidadania, ou seja, o morador (cidadão) participa das decisões tomadas para o funcionamento da cidade. Há outros dois conceitos que aparecem relacionados à participação do cidadão na gestão de sua cidade: a isonomia (igualdade de todos perante a lei) e a isegoria (direito de expor suas opiniões sobre aquilo que acredita ser benéfico para a cidade).

A idéia de política descrita acima alcançou seu desenvolvimento na cidade-Estado de Atenas, especialmente durante o século V a.C., quando prevaleceu a democracia como forma de governo. Os filósofos Sócrates e Platão foram cidadãos atenienses mais ou menos nessa época e, por isso, desenvolveram importantes reflexões políticas. Aristóteles, natural de Estagira, viveu boa parte da sua vida em Atenas, pois foi um dos principais discípulos de Platão, conforme já estudamos. A filosofia política aristotélica configura um dos primeiros tratados sobre esse assunto.
Mas não podemos perder de vista que a democracia ateniense não incluía as mulheres, os estrangeiros e os escravos. A inovação ateniense consistiu no fato de não entregar o poder de governar a cidade para um rei e muito menos garantir a hereditariedade desse poder para os seus descendentes. Apesar da visão restrita sobre cidadania (apenas 10% da população ateniense era considerada cidadã, ou seja, os homens adultos atenienses), a possibilidade de várias pessoas, reunidas em Assembléia, decidirem os destinos da cidade superou em muito a forma monárquica de governar dos reinos orientais antigos.

Trazendo essa discussão para a atualidade, chegamos ao conceito de democracia moderna, cuja formulação recebeu importante influência do filósofo John Locke – fundador do liberalismo político, um dos inspiradores do Iluminismo, no século XVIII –, e dos filósofos iluministas Barão de Montesquieu e Jean-Jacques Rousseau, entre outros. Nessa concepção de democracia, a participação política deve ser direta, isto é, todos participam das decisões que envolvem seu país, ou pode ser indireta, quando, por meio do voto, todos têm o direito de escolher representantes para tomar essas decisões por nós. Em ambos os casos, a participação de todos é fundamental para o bom funcionamento da “cidade”, que aqui é ampliada para a idéia de país. Em suma, exercer a cidadania é reconhecer os direitos e deveres, o que implica participar ativamente da política, seja diretamente, seja cobrando de nossos representantes uma boa atuação. Viu como a política tem mais a ver com o seu dia-a-dia do que você imagina? Aristóteles já dizia: “o homem é um animal político”.

O significado da política

Geralmente, a palavra “política” é empregada fora do seu significado maior. É comum ouvirmos expressões do tipo “a política da empresa é ...”, ou “a política do hospital é ...”, ou, ainda, “a política do sindicato é...”. Nesses exemplos, a atividade política aparece desvinculada da idéia de governo, pelo menos daquele tipo de governo que deve ser voltado para o público, e não para o privado. Contudo, há uma outra concepção de política bastante difundida entre as pessoas no cotidiano: aquela que afirma ser a política uma atividade para os profissionais dessa área, ou seja, os políticos. Junto dessa concepção está a idéia equivocada de que não temos nada a ver com a política, pois ela é “coisa de político”. Nesse caso, o princípio de governo aparece como uma coisa distante das pessoas comuns. Mas, afinal, o que é a política?

O quevocê estálendo?Leio aseção sobrepolítica. Gostode me manterinformadaEu nãoperco meu tempocom política... Issonão tem nada aver comigo! Você éque pensa!

Dessa maneira, mesmo quando nos recusamos a participar da política, ainda assim estamos participando dela, porque, ao nos abstermos do nosso direito e nosso dever com o país no qual vivemos, estamos transferindo essa responsabilidade para aqueles que se interessam pela política. Em outras palavras: não dá para ficar de fora da política, segundo afirmam Aranha e Martins, à página 262 do seu livro Temas de Filosofia:

(...) ninguém pode se considerar apolítico – indiferente à política –, sob pena de essa pretensa neutralidade justificar a política vigente. O indivíduo despolitizado compreende mal o mundo em que vive e é facilmente manobrado por aqueles que detêm o poder.

Se admitirmos que a política é uma dimensão importante da nossa vida, é preciso reconhecer a necessidade da educação efetiva para melhor compreender a vida pública. Essa aprendizagem é a condição para o exercício da cidadania consciente e ativa, para pressionar o governo ou atuar por conta própria na sociedade civil, nas áreas em que for necessário, ampliando as possibilidades da gestão democrática.



O significado de Cultura G7

A palavra “cultura” tem múltiplos significados dentro do nosso idioma. Um deles é cultura enquanto plantação, como, por exemplo, cultura de arroz. Cultura, neste caso, vem do verbo cultivar. Outra concepção para cultura é enquanto sinônimo de erudição. Erudição é a característica de pessoas detentoras de vasto e profundo conhecimento em diversos assuntos. Dessa maneira, podemos nos referir a esses indivíduos como cultos. Mas, a princípio, tal ideia de cultura ainda não nos dá o sentido sociológico que buscamos apreender. Afinal, qual o significado de cultura que nos interessa então? Para as Ciências Sociais, cultura diz respeito a toda manifestação material e não material de um povo ou grupo social. Logo, cultura é tudo aquilo que passa pela ação do trabalho humano, através do qual somos capazes de transformar a natureza. Sendo assim, toda produção, seja ela material (artesanato, comidas, roupas, moradias, ferramentas, entre outros) ou não material (linguagem, histórias, ideias, projetos, entre outros) é não natural ou cultural. Em suma: cultura é toda manifestação humana proveniente do trabalho, que é a maneira por excelência de explorar a natureza e obter a subsistência.

Além dessa concepção importante para nós, temos outra que é de cultura como parte de uma sociedade ou povo, ou seja, um povo ou nação possui manifestações típicas de sua cultura. No caso do Brasil, temos vários exemplos, desde os mais estereotipados, como o carnaval, o futebol e o celebrado “jeitinho brasileiro”, passando pelos menos percebidos, como a nossa alegria de viver, o descaso com horários, regras e convenções e a informalidade nas mais diversas relações sociais. Tal ideia de cultura contempla também a ciência ou a produção artística, como a telenovela – exemplo mais notório dos últimos quarenta anos.
A função da cultura é tornar a vida segura e contínua para a sociedade humana. Ela é o “cimento” que dá unidade a um certo grupo de pessoas que divide os mesmos usos e costumes, os mesmos valores. Desse ponto de vista, portanto, podemos dizer que tudo o que faz parte do mundo humano é cultura e que todos nós somos cultos, pois dominamos a cultura do nosso grupo, seja ele urbano ou rural, indígena ou de outra etnia, de uma ou de outra crença religiosa ou de qualquer outro tipo. ARANHA, M. L. A., MARTINS, M. H. P. Temas de Filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2005, p. 21.

A
diversidade cultural é um fato relativo à própria espécie humana, que, através do surgimento e da formação de sociedades variadas, tem produzido uma série de culturas diferentes. Por exemplo, não exageramos ao afirmar que existe uma cultura latino-americana, mas é errôneo pensar que as realidades distintas, como a brasileira, a mexicana e a argentina, possam expressar culturas iguais. Sem dúvida, existem muitas semelhanças, mas, em meio a um processo de globalização e padronização cultural, as culturas das sociedades modernas buscam preservar suas particularidades culturais, como se isso fosse, mais que uma resistência, uma forma de preservação de identidades.
Atividade Sugerida

Forme um pequeno grupo com seus (suas) colegas de sala para ler o texto e, a seguir, fazer o levantamento de exemplos dos dois tipos de concepções de cultura apresentadas pelo autor. As duas concepções básicas de cultura. As várias maneiras de entender o que é cultura derivam de um conjunto comum de preocupações que podemos localizar em duas concepções básicas. A primeira dessas concepções preocupa-se com todos os aspectos de uma realidade social. Assim, cultura diz respeito a tudo aquilo que caracteriza a existência social de um povo ou nação, ou então de grupos no interior de uma sociedade. Podemos assim falar na cultura francesa ou na cultura xavante. Do mesmo modo falamos na cultura camponesa ou então na cultura dos antigos astecas. Nesses casos, cultura refere-se a realidades sociais bem distintas. No entanto, o sentido em que se fala de cultura é o mesmo: em cada caso dar conta das características dos agrupamentos a que se refere, preocupando-se com a totalidade dessas características, digam elas respeito às maneiras de conceber e organizar a vida social ou a seus aspectos materiais. (...) Vamos à segunda. Neste caso, quando falamos em cultura, estamos nos referindo mais especificamente ao conhecimento, às ideias e crenças, assim como às maneiras como eles existem na vida social. Observem que mesmo aqui a referência à totalidade de características de uma realidade social está presente, já que não se pode falar em conhecimento, ideias, crenças sem pensar na sociedade à qual se referem. O que ocorre é que há uma ênfase especial no conhecimento e dimensões associadas. Entendemos nesse caso que a cultura diz respeito a uma esfera, a um domínio da vida social. De acordo com a segunda concepção, quando falarmos em cultura francesa poderemos estar fazendo referência à língua francesa, à sua literatura, aos conhecimentos filosófico, científico e artístico produzidos na França e às instituições mais de perto associadas a eles. Outro exemplo comum desta concepção de cultura é a referência à cultura alternativa, compreendendo tendências de pensar a vida e a sociedade na qual a natureza e a realização individual são enfatizadas, e que tem por temas principais a ecologia, a alimentação, o corpo, as relações pessoais e a espiritualidade. Ao se falar em cultura alternativa, incluem-se também as instituições associadas, como lojas de produtos naturais e clínicas de medicina alternativa, e, da mesma forma, seus meios de divulgação. SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 1983. Coleção “Primeiros Passos”.